‘Acredito que haja cada vez mais competições online, mesmo depois da pandemia’ – Ricardo Santos

 

Ricardo Santos foi duas vezes vice-campeão nacional universitário de xadrez semirrápidas equipas, nas épocas 2017/2018 e 2019/2020, e foi-lhe confiada pelos companheiros a missão de capitanear a participação de Portugal no Campeonato Mundial Universitário de Mind Sports. Estudante de mestrado em Química na Universidade de Aveiro, o xadrezista de 23 anos já por várias vezes vestiu as cores da AAUAv, incluindo no Campeonato Europeu Universitário de xadrez, em 2017. Em jeito de balanço falou de como foi participar na competição da FISU, que pela primeira vez realizada em formato online.

 

Com que expectativas ias para esta competição?

Ricardo Santos (RS) - Queria fazer bons jogos de xadrez e dar o melhor pelo País. Sabia à partida que a passagem aos oitavos era difícil e que só estando no nosso melhor esse objetivo seria alcançável.

 

O que achaste do nível competitivo?

(RS) - O nível competitivo foi elevado, como era de esperar num mundial. Isso também torna muito mais agradável a participação, porque há uma motivação extra de ganhar aos ‘favoritos’.

 

O facto de ter sido competição online condicionou a participação?

(RS) - Não vou dizer que não. O xadrez online é diferente do xadrez presencial. As condições técnicas, como a rapidez da internet, o facto do tabuleiro ser em 2D, a dificuldade de ver as reações adversárias, tudo isto são condicionantes no modo como depois as partidas são jogadas. No entanto, nada disto é mau. É simplesmente outra forma de jogar xadrez, tão válida como a tradicional, e o jogador tem de se adaptar. No futuro acredito que haja cada vez mais competições online, mesmo depois da pandemia.

 

Os formatos online são na tua opinião uma boa alternativa em tempos de pandemia?

(RS) - Se o jogo presencial está limitado… que remédio. Neste momento continuo a preferir o presencial, principalmente porque não estou devidamente treinado para o online. Sinto que o meu nível de jogo é completamente diferente. No tabuleiro real fico muito mais concentrado e isso faz toda a diferença. A única questão que não sei a resposta é se alguma vez se poderão realizar lentas - jogos que costumam durar mais de 3 horas - no computador. De resto, são dois modelos de jogo diferentes e insubstituíveis.

 

O que achaste do grupo selecionado para representar Portugal e como foi a responsabilidade de ser capitão?

(RS) - Confesso que não estava à espera de ser chamado a jogar e fiquei muito contente por ter sido selecionado. E depois de conhecer o resto da equipa, com vários colegas da universidade e do clube, e o Hugo que também já conhecia há alguns anos, comecei a sentir que teríamos realmente uma equipa que lutaria junta em cada jornada. O Paulo não conhecia tão bem, tinha-o visto uma vez numa competição em Gaia e sabia que ele andava a ter alguns resultados interessantes nos últimos dois anos. Era o rapaz mistério, que sempre esperei que conseguisse bons resultados connosco também. Não fiquei surpreendido com a escolha da equipa para eu ser capitão. Há sempre uma parte burocrática que o capitão carrega e, sendo o mais velho e também já tendo alguma experiência da associação de estudantes, a minha escolha não era descabida. As reuniões por zoom e a distribuição dos jogadores da equipa por jogo foi uma experiência engraçada. Depois foi tentar garantir que a equipa estava o mais motivada possível, gerir as derrotas, dar oportunidade a todos de jogar o maior número de jogos possível e entrar naquelas brincadeiras de companheirismo, tornou a experiência desafiante.

 

Faz um balanço da participação portuguesa.

(RS) - O balanço que faço é aquilo que disse a todos no fim da competição, mesmo depois do meu péssimo resultado pessoal nos meus últimos jogos. O objetivo de passar aos oitavos era difícil e não o conseguimos atingir. Em termos de relações entre os jogadores, houve uma enorme atitude nos bastidores e de que me orgulho. Nunca fomos cada um a jogar no seu tabuleiro. Éramos jogadores confiantes nos nossos colegas ao lado e, quando não jogávamos, estávamos lá a apoiar. Acho que este aspeto é o melhor resultado que poderíamos ter para o futuro. Quero também agradecer a todas as outras pessoas e organizações que nos acompanharam e apoiaram até ao fim, encheram-nos o coração de alegria.

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