O quarteto académico que remou para o bronze na Turquia
A equipa da Associação Académica de Coimbra (AAC)/Universidade de Coimbra (UCoimbra), que conquistou o bronze no Campeonato Europeu Universitário de Remo realizado em Istambul, na Turquia, na época passada, foi chamada a palco na XIII Gala do Desporto Universitário. Foi a homenagem justa por terem levado mais longe o nome de Portugal.
O quadri-scull da AAC/UCoimbra, composto por Simão Simões, Marcelo Simões, Gonçalo Delgado e Eduardo Sousa conquistou o terceiro lugar no Campeonato Europeu Universitário de Remo terminando a prova em 2:56:84 minutos, poucas frações de segundo de diferença quer para o primeiro quer para o segundo lugar conquistados por, respetivamente, Maramara University, da Turquia, e Budapest University Technology, da Hungria.
Os quatro estudantes-atletas que o treinador Miguel Alfaiate define como sendo muito diferentes uns dos outros, formaram uma equipa forte e de ‘alta roda competitiva’, colhendo os frutos do trabalho e méritos próprios. O objetivo era chegar a um lugar de pódio, confessou Gonçalo Delgado. Foi com os olhos postos nesse objetivo que abraçaram o sacrifício exigido pela meta proposta e, trabalhando em conjunto, regressaram a Portugal com o sentimento de dever cumprido.
O Remo, apareceu nas vidas destes jovens ainda em tenra idade e por influência familiar, mas a paixão à primeira remada levou-os a não ‘saltarem do barco’ até hoje. Foi esta vontade de continuar a remar, que levou os quatro estudantes a ingressarem na Universidade de Coimbra. A localização estratégica da cidade dos estudantes, com o rio Mondego a atravessá-la e o Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho a pouco menos de 30 km, fez com que a escolha da instituição de ensino superior pendesse para os lados de Coimbra. ‘O rio Mondego é muito bom para a prática da modalidade e temos também muito apoio da Federação Portuguesa de Remo”, frisou Simão Simões. Dizem-se disciplinados, determinados, conscientes, adeptos da perseverança e os resultados vão falando melhor do que a causa própria que os quatro possam defender. No entanto nem só de remo e água se faz a vida do quarteto, que não foge muito aos gostos do jovem millennial comum: ver a série do momento, ler um livro e aproveitar os dias de sol que um País à beira-mar plantado oferece para procrastinar e até… praticar mais desporto.
Eduardo é natural do Barreiro e, em equipa, para além do bronze conquistado no europeu universitário, venceu o ouro no Campeonato Nacional Universitário (CNU) de Remo em M4-, também na época passada. A título individual venceu, duas vezes, o campeonato nacional de fundo e, uma vez, o campeonato nacional de velocidade. Conta com um leque alargado de medalhas de vice-campeão nacional e algumas de 3.º lugar. Quanto a provas internacionais, pela Seleção Nacional, participou, enquanto júnior, em dois coupés de la jeunesse e na regata internacional de remo. Enquanto sénior sub-23 participou em três campeonatos do mundo, tendo alcançado o 9.º lugar. Com um percurso muito ativo no desporto, mas sem deixar de lado os estudos, Eduardo tirou uma licenciatura em Ciências do Desporto e inscreveu-se em Bioquímica no ano passado, mas congelou a matrícula por ter dificuldades em conciliar as duas vertentes nesta fase da sua vida.
Gonçalo, que terminou o mestrado integrado em Engenharia Biomédica no ano passado, rema às portas de casa, é natural de Coimbra, e tem também um currículo a assinalar. Venceu inúmeras competições nacionais em diferentes escalões e embarcações, e conseguiu, em 2016, um 8.º lugar no campeonato europeu de juniores. Foi quatro vezes campeão nacional universitário, duas em M2x e outras tantas em M4-.
Marcelo e Simão são irmãos, e iniciaram na modalidade por influência do pai, sendo hoje parceiros e os maiores apoiantes um do outro. A nível nacional, Marcelo – que está no 3º ano de Engenharia Eletrotécnica – foi duas vezes campeão nacional, tendo participado num Campeonato da Europa júnior. Em contexto universitário, conquistou o ouro em M4- e o bronze em M2x. Simão, que está no quinto e último ano do mestrado em Mecânica Estrutural, foi quatro vezes campeão nacional, duas vezes vice-campeão e duas vezes medalha de bronze nos campeonatos nacionais de velocidade e fundo. Nos CNU foi bicampeão em M4- nas últimas duas épocas. Lá fora, participou num campeonato do mundo sub-23, conquistando o 8.º lugar, participou numa Taça do Mundo, onde ficou em 2.º lugar, e alcançou também a prata num europeu sub-23.
Ao currículo somaram, em setembro passado, o bronze no europeu universitário, numa experiência marcante para todos, que consideram ter sido vivida em ambiente mais ‘relaxado e amigável’, mas com muita seriedade. ‘Dentro de água todos davam o máximo. Conseguiu-se juntar ali o bom de ser ambiente universitário com o desafio de haver um alto nível competitivo’, contou o estudante-atleta, Eduardo Sousa. Semanas antes da prova, a regata foi alterada para metade da distância, de 2000m passou a 1000m, e se por um lado foi um contratempo imprevisto que afetaria todas as equipas, por outro acabou por ser vantajoso para a equipa da AAC, cujos elementos têm alguma compleição física. Essa característica, dizem, permitiu-lhes aproveitar a componente da força nos últimos 200m, contributo importante para que ficassem a menos de um segundo dos dois primeiros classificados, que completaram a prova em 2:56:00 e 2:56:71. Para Gonçalo e Eduardo, os membros mais velhos do quadri-scull - que se encontram nos últimos anos de universidade -, esta medalha ‘sabe a ouro’, porque são um fechar de ciclo universitário, com um excelente resultado e que trouxe inesquecíveis recordações.
Este percurso foi reconhecido também na última Gala do Desporto Universitário, em Espinho. Os quatro atletas subiram a palco para serem homenageados, algo que valorizaram por não ser assim tão comum. ‘No remo não é costume haver reconhecimento, e quando há, sabe a muito’, confessou Marcelo Simões.