O fabuloso destino de Francisca Mesquita
Acredita no destino e parece estar destinada a grandes palcos e feitos, com os Jogos Olímpicos a acenar, qual cereja a faltar no topo do bolo que é o seu percurso enquanto nadadora. Apesar da crença, o mérito de Francisca Mesquita não é obra do acaso e com um medalheiro bem recheado – nas competições universitárias somou 10 medalhas numa só época – arrecadou, em novembro passado, o troféu de atleta do ano na Gala do Desporto Universitário da FADU.
Estudante-atleta de natação pela NOVA, entrou este ano no último ano da licenciatura em Gestão na School of Business and Economics (NOVA SBE), e soma no seu currículo 10 medalhas em competições universitárias. Nos Jogos Europeus Universitários deste ano, que decorreram em Lodz (Polónia), chegou a três pódios, conquistando duas medalhas de ouro nos 200m mariposa e na estafeta 4x100m estilos, e o bronze na estafeta 4x100m livres. Nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU) de Natação piscina longa conquistou duas pratas nos 100m mariposa e 200m estilos, e um ouro em estafetas 4x50m livres. Em piscina curta conquistou o ouro em todas as provas que disputou, nos 100m mariposa, 200m estilos, estafeta 4x50m estilos e estafeta 4x50m livres.
Apesar de defender que ‘a vida não é uma competição’, dentro de água o caso muda de figura e tudo o que não seja estar no topo, faz apenas parte do caminho até chegar lá. ‘No desporto o que interessa é o momento, só ganha um e o segundo lugar já perdeu’, constata, ela que ficou também em primeiro na corrida pelo galardão de atleta do ano na Gala do Desporto Universitário da FADU. A nadadora, a estudante-atleta com maior número de medalhas conquistadas entre as nomeadas desta edição, sentiu que esta conquista veio trazer mais motivação para a época que se avizinha. ‘Senti que foi uma época que compensou todo o trabalho que tive e todas as coisas de que abdiquei, e que fui reconhecida pelo trabalho que fiz. Foi uma ótima maneira de começar esta nova época’.
Experimentou atletismo no desporto escolar, onde obteve boas classificações, e fez dança contemporânea alguns anos, mas foi a natação a ganhar o espaço maior na sua vida. ‘Comecei a nadar com dois anos, os meus pais inscreveram-me na natação, eu nadei durante o período do colégio, depois entrei para a competição, com uns oito anos, e a partir daí nunca mais saí’, contou Francisca. Desde então competiu pelo Colégio Integrado Monte Maior em competições nacionais e internacionais. Em 2016, ainda nos juvenis, foi a primeira classificada no Torneiro Nadador Completo, torneio de âmbito nacional onde se nadavam todos os estilos e onde se via quais os atletas mais versáteis. Na época seguinte obteve mínimos para o Festival Olímpico da Juventude Europeia nas provas de 200 e 400m estilos, e sagrou-se pentacampeã nacional nas provas de 100 e 200m mariposa, 200m bruços e 200 e 400m estilos. Em 2019 defendeu as cores lusas no europeu de juniores em Kazan (Rússia), competição que a marcou particularmente. ‘Foi dos momentos mais felizes da minha carreira porque tive a oportunidade de nadar ao lado de atletas que atualmente são pódio nos Jogos Olímpicos, campeões e recordistas do mundo, e foi uma experiência incrível para conhecer a realidade do que é a natação lá fora. Ajudou-me a crescer muito enquanto pessoa e enquanto atleta’. Após o ingresso na faculdade integrou a equipa de natação da NOVA e já na época 2021/2022 entrou para a equipa de natação do Sporting Clube de Portugal, pela qual, na época passada, se sagrou campeã nacional de clubes. Este ano somou já, pelo clube leonino, dois primeiros lugares em provas de estafeta.
O treinador, Carlos Cruchinho, reconhece que apesar de todas as conquistas, há ainda uma boa margem de progressão. ‘Ainda está longe de realizar todo o potencial que tem, falta-lhe um pouco de confiança e se a ganhar pode fazer melhor do que tem feito’, avalia o treinador, que aponta também o desafio de conciliar a vertente do desporto com a dos estudos. ‘Está num processo e se conseguir conciliar ainda melhor toda a vida académica com os treinos pode dar um salto qualitativo importante. Ainda tem margem de evolução’.
Natural de Odivelas, a jovem de 20 anos contou sempre com o apoio dos mais próximos, que, como a amiga Madalena, a caracterizam como sendo uma pessoa atenta, preocupada e carinhosa. ‘Como família, estamos sempre orgulhosos por ela atingir os objetivos dela, mas acima de tudo queremos que se sinta bem e feliz no que está a fazer’, sublinhou o irmão, Frederico Mesquita. Para além da paixão pela natação, a Francisca gosta de passar tempo com os amigos e a família, passar por Suits ou Better Call Saul, esta última sequela de uma das suas séries favoritas - Breaking Bad, no seu périplo quase diário pela Netflix. Gosta de ler, tendo como número um da sua lista o romance All Your Perfects de Colleen Hoover. Adora animais, mais especificamente os caninos, e tem um plano traçado quanto a isso: ‘quando tiver a minha casa terei um cão!’. Obstinada nos seus objetivos de vida, faz por merecer, mas mostra-se também crente na ideia de que há coisas que já vêm escritas nas estrelas, com um propósito maior. ‘Acredito no destino e que todas as coisas que nos acontecem na vida não são meras coincidências, são antes lições e caminhos que nos vão levar aquilo que temos guardado para nós’.