Portugal é o País do futsal… Minho será a capital do ouro feminino?
Em seis edições do Campeonato Mundial Universitário de futsal feminino, Portugal falhou o pódio apenas uma vez. Soma até ao momento dois troféus de prata, três de bronze e uma vontade crescente de finalmente chegar ao ouro. Essa coroação – que viria reforçar ainda mais a ideia de que Portugal é o País do futsal - poderá estar reservada para a cidade berço, onde decorrerá a final da competição, organizada localmente pela academia minhota.
Portugal pode muito bem ser o País do futsal. Segundo a conceituada plataforma FutsalPlanet – que elegeu os melhores de 2021, temos a melhor seleção nacional de futsal masculina, o melhor clube de futsal masculino – o Sporting Clube de Portugal, e o segundo melhor clube no futsal feminino – o Sport Lisboa e Benfica, a melhor guarda-redes do mundo, de seu nome Ana Catarina (com passado no desporto universitário), o melhor treinador de clubes, Nuno Dias (com passado no desporto universitário) e o melhor selecionador do mundo, Jorge Braz (com passado e presente no desporto universitário). A sustentar tudo isto estão os títulos: campeões da europa, campeões olímpicos da juventude, campeões do mundo e campeões mundiais universitários, em breve resumo. As Seleções Nacionais Universitárias não destoam do contexto e, no caso particular das equipas lusas femininas, os dados são simples: em seis edições do Campeonato Mundial Universitário de futsal da Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU), organizado de dois em dois anos, Portugal arrecadou cinco troféus.
A primeira edição da competição realizou-se em 2008, na cidade brasileira de Vitória. No ano de estreia, a FISU optou por separar os campeonatos feminino e masculino, algo que viria a mudar logo na edição a seguir, em 2010, em que Novi Sad (Sérvia) acolheu ambas as competições. No ano de estreia, Portugal marcou presença e só perdeu na final. Nesse ano conquistou a prata e dois anos mais tarde repetiu a proeza. Seguiram-se mais três medalhas de bronze: 2012 (Braga), 2016 (Goiânia - Brasil) e 2018 (Almaty - Cazaquistão). Em seis edições, a seleção feminina formada por estudantes-atletas só falhou o pódio em 2014, na cidade espanhola de Málaga.
A participação em Almaty foi a última, e dela fez parte Débora Venâncio, capitã na altura, agora no papel de adepta. ‘As competições universitárias não valem só pela competitividade, vale também pelas pessoas que conhecemos. Quando participei, além da nossa seleção masculina, tivemos muito contacto com outras equipas e no último dia, no chamado dia da troca, todos trocamos camisolas, calções, casacos… é muito engraçado e diferente’, contou a fixo que marcou no 4-2 frente à equipa de França, no jogo que decidiu o terceiro lugar em 2018. Em alguns casos esta é das poucas oportunidades que as futsalistas têm de experienciarem uma vertente mais profissionalizada da modalidade. ‘Tivemos três semanas de preparação com treinos bidiários, ou seja, fizemos um bocadinho a vida de profissional. Isso dá-nos logo outra visão, outra responsabilidade e outra forma de ver o desporto. Poder experienciar um mês de puro profissionalismo é de aproveitar e é de louvar o esforço que a FADU faz, em conjunto com a Federação Portuguesa de Futebol, para nós termos estas condições’, sublinhou. Com algum saudosismo, valoriza as experiências que teve em países tão diferentes quanto Brasil e Cazaquistão e a dimensão que o evento desportivo encerra. ‘O mundial universitário tem grandeza para nos proporcionar uma experiência extraordinária’. Adriana Mendes, estudante-atleta pela Associação de Estudantes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (AEISCAL) que foi chamada para o estágio em Lamego, é repetente em mundiais e fez parte da comitiva na última participação. ‘Ir em 2018 foi muito bom, sem dúvida. A competição foi num país completamente diferente, não sabíamos o que íamos encontrar, nem ao nível de infraestruturas nem da cultura desportiva deles, e foi surpreendente. Houve pavilhões cheios, as pessoas vibravam com o mundial! Além disso, os pavilhões eram muito bons. Em Portugal não há nenhum pavilhão igual aos que eles tinham lá, sobretudo um deles em que jogamos’. A experiência na competição poderá ser importante na passagem de testemunho, mas Adriana acredita que estão reunidas todas as condições para um desempenho que corresponda às melhores expectativas.
E se é verdade que o passado dá boas indicações, as expectativas para o futuro próximo são ainda melhores. A evolução da modalidade é notória e consensual e as fórmulas seguidas – sobretudo no que respeita às seleções – têm dado frutos. ‘O nível de maturidade e de experiência das atletas que estão a ser chamadas é superior ao que tivemos anteriormente. Têm uma experiência que eu na altura não tinha a nível de camadas jovens da seleção. Claro que estamos sempre à espera para ver as outras equipas, mas com o acompanhamento que é feito pelas equipas técnicas e pelas condições que há, temos tudo para finalmente conquistar o ouro’, vaticinou a antiga capitã, que atualmente representa o Sporting. A ideia é reforçada por Adriana. ‘Fomo-nos cruzando desde a fase de juniores, conhecemo-nos enquanto adversárias e este ano tivemos bastantes estágios em que coincidiram as sub-21 e as universitárias, e isso permitiu aumentar o entrosamento. Vamos entrar no mundial bem preparadas a esse nível’.
Numa altura em que ainda não começaram as competições internas de futsal, o leque de opções é mais alargado e jogar em Portugal pode ser uma vantagem. Para Marta Teixeira, estudante-atleta da Associação de Estudantes da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (AEFADEUP), jogar a norte pode incrementar o apoio nas bancadas. ‘Sem dúvida que Portugal está a crescer a nível de futsal feminino e, na minha opinião, até há mais representatividade a norte do que a sul, há mais público. Acho que vamos ter casas cheias’.
Para Sofia Jesus, atleta que consta nas convocadas para estágio, ‘o futsal português tem de estar sempre nos momentos de decisão’, e a companheira Marta vai mais longe na sua declaração de interesses: ‘só queremos uma das medalhas, não é? Somos portuguesas e vamos dar o tudo por tudo para ficarmos com a medalha de ouro em Portugal!’. A concretização destes desejos, seria, na perspetiva de Débora Venâncio, o premiar de muitos anos de boas práticas. ‘Se isso acontecer será uma grande festa e é muito merecido porque Portugal anda há muito tempo a preparar bem as coisas’.
As seleções portuguesas têm um homem ao leme: Jorge Braz. Presença assídua nas Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários, com acompanhamento dos jogos de ambos os géneros, o coordenador e selecionador nacional e universitário carrega consigo uma aura e a mensagem de que ninguém está descartado. Marta, ala que atua pela Novasemente no campeonato nacional, não tem dúvidas de que o acompanhamento técnico faz toda a diferença. ‘O facto de termos a nossa equipa técnica, de termos tido uns vinte treinos juntas além dos estágios que ainda vamos ter e de já nos conhecermos todas há muito tempo, fazem-me ter a certeza de que vamos estar muito preparadas e dar o nosso máximo. E claro, ter o selecionador Jorge Braz… pesa muito’, disse, referindo que a presença regular do selecionador eleva o nível de exigência que cada atleta adota para si.
A conciliação com os estudos/trabalho e o desejo de profissionalização
Muitos passos têm sido dados na evolução da modalidade em Portugal, é certo, mas a profissionalização das futsalistas ainda não é uma realidade (nem acompanha o nível de compromisso das atletas) e a conciliação com os estudos acaba por ser simples, quando comparada com outras modalidades. ‘No nosso caso é fácil conciliar com os estudos e quem disser o contrário estará a mentir. No futsal é quase como ir ao ginásio no fim do dia. Quem me dera que fosse mais difícil conciliar, porque significaria que estaríamos noutro patamar de profissionalização. Claro que é preciso ter alguma cabeça, mas só por causa dos horários dos treinos que às vezes acabam tarde e no dia a seguir temos de acordar cedo’, disse Sofia Jesus, que se sagrou campeã pela AEIST em Leiria, na última edição das Fases Finais.
Adriana Mendes, ala/pivot que representa o Sport Lisboa e Benfica nas competições federadas, começou recentemente a trabalhar e conta como tem sido a transição dos estudos para o mundo do trabalho, com o futsal pelo meio. ‘Temos de ir gerindo prioridades e percebendo o que é realmente prioritário no nosso caminho. Há muitas pessoas que com o passar dos anos acabam por dar mais importância à parte desportiva ou à parte profissional, no meu caso é 50/50. Comecei a trabalhar num escritório com uma solicitadora, estou como estagiária na ordem dos solicitadores e se tudo correr bem no final do ano faço os exames e fico com a minha cédula. Estarei apta e serei uma profissional independente, mas sempre mantendo o futsal!’ Tem de haver ‘mais flexibilidade das entidades patronais’ disse, referindo que no tempo que estiver em estágio tentará ir fazendo algumas coisas nos tempos livres.
Licenciada em Economia e com mestrado em Gestão, Débora Venâncio sempre viu os estudos como o seu plano A. ‘Em Portugal não dá para fazer vida só do futsal e por isso sempre me dediquei ao meu curso. O desporto acaba por nos ensinar coisas importantes que levamos também para o mundo do trabalho, competências individuais que, se calhar, outros não terão tão desenvolvidas’.
Mundial em Braga, europeu em Lodz
Na semana em que as Seleções Nacionais Universitárias de futsal discutem o título mundial, na cidade polaca de Lodz, nos Jogos Europeus da Associação Europeia do Desporto Universitário (EUSA), duas equipas portuguesas estarão na corrida ao título europeu. A Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI/Universidade da Beira Interior), no masculino, e a Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST/Universidade de Lisboa), no feminino, atuais campeãs nacionais universitárias de futsal, vão a jogo na competição da EUSA. Sofia Jesus, que participou nas últimas quatro edições das Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários pela AEIST, equipa que conquistou o primeiro lugar nas duas últimas, está dividida. ‘Este ano não criei expectativas nem para o mundial nem para o europeu universitários porque sabia que indo a um ou outro ficaria sempre feliz por um lado e triste por outro. Seja como for, estarei a acompanhar à distância e a torcer pelo Técnico’. Em resposta, Catarina Barra, capitã da AEIST, deixou uma reflexão e um elogio à companheira de equipa. ‘Não devíamos ter as duas competições em simultâneo porque acaba por se perder alguma qualidade, mas ficamos contentes pela Sofia. Ela é muito especial!’.