Catarina Karas à procura da quinta medalha na pista coberta
Estudante de Engenharia Biomédica, Catarina Karas participa pela terceira época consecutiva no Campeonato Nacional Universitário de Atletismo pista coberta. Com um saldo de duas medalhas de ouro no salto em comprimento e duas de prata nos 60m barreiras, a estudante-atleta pela Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) quer ir mais uma vez ao pódio e usufruir do facto de, desta vez, ter uma equipa com quem partilhar a experiência.
Quais são as tuas expectativas nesta terceira participação no CNU de Atletismo pista coberta?
As expectativas são sempre um bocadinho altas porque quando vamos para as competições vamos sempre à procura da melhor marca ou do melhor resultado possível. Em campeonatos nacionais universitários anteriores consegui sempre pódios e o meu objetivo é esse, manter-me no pódio e se for possível ganhar a medalha de ouro. Isso seria excelente’.
O que esperas do nível competitivo?
As competições têm tido muito bom nível. É muito parecido ao que temos nas outras competições que vamos tendo ao longo da época. A diferença é que há menos atletas, mas o nível é praticamente igual.
Como tem sido participar em representação da AEIST?
Este foi o primeiro ano em que foi o Técnico que me contactou para participar, porque vão levar equipa pela primeira vez. Acho que vamos ser cinco, o que é muito bom porque passamos de uma ou duas pessoas para cinco, e irmos todos juntos é excelente. Em anos anteriores fui por minha conta, eles davam-me uma declaração ou um certificado e depois faziam o reembolso das despesas porque ia em representação da AEIST. Sempre quis participar nesta prova e quando percebi que o Técnico não tinha equipa de atletismo fui à procura. Eu é que os contactava, fazia a inscrição no portal… este ano já não tratei de nada!
Ter equipa dá mais conforto ou confiança na hora de competir?
A associação dos estudantes este ano está mais empenhada em acompanhar os atletas e acho que é muito importante. Porque uma coisa é irmos à competição sozinhos, chegar ao final e trazermos a medalha, outra coisa é irmos acompanhados. Ok que depois fazem uma publicação nas redes sociais e está tudo bem. Mas a verdade é que é muito diferente eles acompanharem-nos, saberem um bocadinho de como funciona a competição, o que está por de trás do desporto. É bom para nós termos esse apoio quando estamos a representar a faculdade para além daquilo que é a vertente académica.
E porquê o atletismo?
Estou no atletismo há mais ou menos 11 anos e entrei um pouco arrastada, porque os meus pais são os dois professores de Educação Física e a minha mãe foi a uma formação com o professor Uva [José Uva, que treina a atleta Patrícia Mamona]. Ele na altura estava a começar a Academia do Sporting e perguntou à minha mãe se tinha miúdos em casa, alguém que pudesse ir experimentar. Na altura praticava natação, ténis e voleibol, porque sempre adorei desporto. A minha mãe perguntou-me se queria experimentar, fui, fiquei completamente fã e, entretanto, desisti de todas as outras modalidades e fiquei no atletismo.
Não equacionaste seguir o desporto como via académica?
Fiz questão de separar. Eu gosto muito de praticar desporto, mas acho que nos estudos teria de ser uma coisa diferente e acabei por ir para engenharia.
E conciliar tudo é uma espécie de prova de 60m barreiras?
É complicado, é preciso uma logística muito grande e uma gestão do dia quase perfeita, mas até agora tem estado a correr muito bem, tenho estado a conciliar a faculdade com o desporto. Não seria tão boa atleta se não fosse estudante e não seria tão boa estudante se não fosse atleta. A faculdade ajuda a aliviar a pressão dos treinos e os treinos ajudam a aliviar a pressão da universidade. Exige esforço, mas no fim compensa tanto que todo o esforço acaba por passar quase despercebido. Ficamos com outro mindset depois do treino. Agora é época de exames e é estudar durante o dia e chegar ao fim da tarde, espairecer um bocadinho, ir treinar e fazer o que me dá tanto prazer… venho sempre muito mais leve.
E sentes que tens total compreensão dos professores?
Há um pouco de tudo. Há uns mais compreensivos, que se eu disser que não vou poder ir a uma aula ou que preciso ajustar a época especial ou a data do teste, são bastante flexíveis. Depois também há outros que não são tanto, infelizmente, mas é uma questão de saber lidar com isso. Há questões que estão fora do nosso controlo, não podemos fazer nada. É aceitar e ter um pouco de jogo de cintura. Se houver flexibilidade, melhor, mas não havendo há que fazer uma ginástica maior para tentar conjugar tudo.
Tens sido assídua nas provas universitárias de atletismo em pista coberta. Está nos teus objetivos uma participação nos Jogos Mundiais Universitários?
As pessoas do atletismo que já participaram e me falaram da experiência, dizem-me que é uma competição muito diferente daquilo que é um campeonato do mundo ou da europa, porque não é de uma só modalidade. Esta junção de várias modalidades é importante para nós atletas porque conhecemos a realidade de um atleta da natação, do ténis… outros desportos. E sim, gostava muito de participar.
Até aqui, que momento mais te marcou enquanto atleta e porquê?
O momento que mais me marcou até aqui foi o eu ter conseguido ir ao Campeonato da Europa de sub-23 na época passada, nos 60m barreiras, que é a prova que mais gosto. Vou normalmente à pista coberta e depois ao ar livre não costumo ir porque lesiono-me com muita frequência nos posteriores. A época passada foi a primeira em que isso não aconteceu, fiz uma época limpinha, sacrifiquei tanta coisa e foi tão difícil conseguir a marca de qualificação, que no final deu um gosto especial. Os atletas precisam de muitos anos de trabalho, não é só fazer uma boa época e está feito, é preciso estar bem uns anos atrás dos outros e eu tinha sempre uma quebra. Dois meses de treino, parava e voltava ao zero. Esta época consegui acumular treinos certinhos e essa qualificação foi conseguida com muito muito esforço. Cheguei à competição, não fiz nada daquilo que estava à espera, mas só o facto de estar lá e ter contacto com aquele nível já foi muito bom.
As lesões são mesmo um dos grandes desafios de um atleta…
Temos de aprender a lidar com isso, muitas vezes são situações que fogem completamente do nosso controlo, por muito que estejamos a treinar, comer e descansar bem. Às vezes só isso não chega e estamos todos os dias sujeitos a que uma lesão aconteça. É lidar com essa adversidade e frustração, coisas com as quais tenho lidado muito e que no ano passado e esta época estão a correr bem.7
Tens com certeza amizades feitas através do atletismo, como as definirias?
São as amizades que considero diferentes de todas as outras, porque são pessoas que sabem exatamente por aquilo que nós passamos. Às vezes dizemos aos nossos amigos fora do atletismo que não podemos almoçar ou sair à noite e às vezes reagem mal, não entendem porque é que estamos constantemente a dizer que não podemos. As pessoas do atletismo sabem perfeitamente que não são desculpas, porque passam pelo mesmo. Isso dá um elo de ligação gigante.
Tens alguém neste percurso a quem gostasses de deixar um agradecimento especial?
Ao meu antigo treinador Alexandre Costa. Mudei de treinador há um mês e ele foi meu treinador durante cerca de nove anos. Foi a pessoa que me fez ficar no atletismo porque a situação das lesões foi frequente, ele apanhou-me na fase da adolescência e em alturas que questionei se valeria a pena continuar. Foi a pessoa que sempre me acompanhou, apoiou e me fez ver o porquê de estar aqui, de gostar disto e de ser tão importante para mim. Foi a pessoa que mais me fez ficar, gostar da modalidade e de desporto acima de tudo.
O que pretendes para o teu futuro mais próximo, quer em termos académicos, quer em termos desportivos?
Em termos académicos quero terminar o curso, ainda não sei bem se farei um mestrado. Quero tentar ir aos Jogos Olímpicos em 2024 ou em 2028, se calhar fazer uma pausa nos estudos, e depois retomar para entrar no mercado de trabalho na área da Engenharia Biomédica.