Catarina Barra e o sonho de fazer história pelo Técnico
A Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) fez história ao vencer pela primeira vez na sua história o Campeonato Nacional Universitário de Futsal feminino. O feito foi alcançado nas Fases Finais deste ano, que decorreram em julho na Beira Interior. As estudantes-atletas do Técnico levantaram o troféu de ouro e para Catarina Barra, a capitã, foi o realizar de um sonho que se anunciava. ‘Sermos campeãs nacionais universitárias era um sonho porque valorizamos muito estas competições, sejam os regionais ou nacionais. Sermos campeãs significa que chegamos ao topo do desporto universitário’.
A 24 de julho, o pavilhão 1 da Universidade da Beira Interior foi o palco da festa da AEIST, que venceu a Associação Académica da Universidade do Minho, após uma final emocionante que terminou com um 4-3 a favor das lisboetas. Foi a primeira vez que o Técnico conseguiu tal feito, as melhores prestações remontavam a 1997/1998 e 2002/2003, épocas em que conquistou o troféu de bronze. Na penúltima edição das Fases Finais, em Guimarães, a equipa chegou às meias-finais, tendo ficado em quarto lugar, um pronúncio do que se poderia seguir. Essa prestação foi, na opinião da capitã, um ‘clique’ fundamental para o ouro agora conquistado. ‘Parece que se desbloquearam um monte de coisas porque pensamos: somos capazes! E este ano já fomos com uma mentalidade muito mais aberta’, contou a capitã.
A presença assídua nas competições universitárias, também nos Campeonatos Universitários de Lisboa (CUL) organizados pela Associação Desportiva do Ensino Superior de Lisboa (ADESL) - onde este ano perderam na final contra a equipa da Associação dos Estudantes da Faculdade de Motricidade Humana (AEFMH) , permitiu-lhes crescer nas competições e ascender ao lugar mais alto do pódio, feito com um sabor muito especial. ‘Sermos campeãs nacionais universitárias era um sonho porque valorizamos muito estas competições, sejam regionais ou nacionais. Sermos campeãs significa que chegamos ao topo do desporto universitário. Sempre tivemos boas jogadoras, mas este ano conseguimos atingir um nível desportivo diferente’. Catarina deixou também um elogio ao treinador, Nuno Aguilar, que considera ter tido um papel muito importante na conquista do ouro na Covilhã. ‘É muito bom, deu-nos as ferramentas todas para conseguirmos alcançar o objetivo’, disse, sem deixar de lembrar outros treinadores que por ali passaram, talentos que o Técnico forneceu ao futsal nacional.
Também o treinador, que já participou em três edições das Fases Finais (2016, 2019 e 2021), falou na conquista de um ‘título especial e inédito’, fruto do ‘empenho e carinho muito grande pelas competições universitárias que há da parte de todo o grupo’. Da capitã, as melhores referências. ‘A Catarina esteve a um nível excecional, ela normalmente já transmite muito entusiasmo e aliou a isso alguma genialidade. Era uma coisa que ela, em particular, queria muito’. O treinador disse ainda que o facto de a competição se realizar mais tarde do que o habitual, permitiu ter mais gente disponível e mais tempo para trabalhar na conquista do título que consideram ‘a cereja no topo do bolo’. Tendo elevado a fasquia ao patamar mais alto, o que desejar para 21/22? ‘Se houvesse outro CNU já no próximo mês, por mim íamos já! Queremos chegar lá e voltar a ganhar. Agora temos de ganhar aqui em Lisboa primeiro – queremos matar esse borrego -, voltar ao CNU, e repetir a façanha de ganhar o ouro’.
O regresso após a pandemia: ‘Ficamos extremamente satisfeitas por haver competição’
Após dois anos de pausa, na opinião da futsalista, o nível competitivo não saiu afetado. ‘Há muitas jogadoras que participam no nacional da Federação Portuguesa de Futebol e esse campeonato não parou. O nível competitivo não baixou assim tanto porque há muitas atletas que conseguiram manter a forma’, disse, referindo que a equipa, antes de rumar à Covilhã, estava a treinar duas vezes por semana, o que proporcionou que houvesse entrosamento na hora de competir. ‘O bom trabalho que fizemos permitiu-nos chegar onde queríamos. Fomos uma equipa competente e consistente’.
Quando questionada sobre a opção da FADU e da ADESL retomarem as competições universitárias – ao contrário do que aconteceu por exemplo nos Campeonatos Académicos do Porto -, a resposta saiu com naturalidade: ‘Ficamos extremamente satisfeitas por haver competição’. Por ser em julho, altura de exames, e também já período de férias para muitos estudantes, houve alguma ‘ginástica’ para conseguir que a maior parte da equipa marcasse presença. ‘Houve atletas que foram, vieram a Lisboa fazer exame e voltaram para cima no mesmo dia, só para poderem participar. Isto é diferente de tudo o resto, algo em que só se pode participar enquanto se está a estudar e todas adoramos ter estas oportunidades, de jogar com pessoas que têm imensa qualidade’.
As organizações foram merecedoras de elogios. ‘Quer em Lisboa quer as Fases Finais na Covilhã foram muito bem organizadas e para nós atletas não foi uma experiência muito diferente da dos outros anos. A única diferença foi nos convívios, na quantidade de pessoas, no público que já deu para ter algum… fizemos as mesmas coisas dos outros anos. Jogamos, fomos às cantinas comer, descansámos e acrescentamos a isso o fazer testes porque num ano como este também foi importante… a sensação foi de grande normalidade’.
Futsalista, engenheira e… presidente
A par do futsal – onde começou através de uma amiga – no Instituto Superior Técnico, Catarina licenciou-se em Engenharia Civil e está agora a terminar a tese, cujo tema é Soluções de Escavação e Contenção Periférica no Lote 1 do Exeo Office Campus em Lisboa. ‘O meu curso sempre foi feito em paralelo com muitas outras coisas para além do futsal, agora estou a fazer o MEC (Mestrado Integrado em Engenharia Civil) e em breve vou entregar a tese’. É bolseira e trabalha há cerca de seis anos (os últimos três como presidente) no Laboratório de Tecnologias de Informação - LTI DECivil, uma ‘miniempresa’ do departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georecursos, que funciona como uma sala de estudos para apoio aos alunos e onde há também formações. Estar envolvida nessa gestão é algo que gosta de fazer e que lhe dá experiências noutras áreas que não a sua. A par disso também vai trabalhando com o pai em alguns projetos de engenharia.
O apoio do Futsal Feijó
Esta é a terceira época que Catarina está no Futsal Feijó, clube da FPF que este ano joga pela primeira vez na primeira divisão, e a quem Catarina quis deixar um agradecimento especial. ‘Os meus treinadores sempre deram suporte à minha vontade de querer participar nas competições universitárias. No Instagram do clube até publicaram quando nós fomos campeãs e quando eu fui nomeada melhor jogadora (nos CUL), ou seja, não só permitem como dão valor’, disse, referindo que nem sempre é isso que acontece. ‘Muitos clubes querem é que as suas atletas estejam sempre disponíveis para as obrigações que têm com eles e às vezes é difícil conciliar o federado com o universitário’.
A um passo da Seleção Nacional Universitária
Em 2018, aquando da participação de Portugal no Campeonato Mundial Universitário de Futsal, que teve lugar no Cazaquistão, Catarina esteve a um passo de integrar a equipa que viria a conquistar o bronze. A estudante-atleta da AEIST chegou a ser convocada por Jorge Braz para o período de estágio, mas acabou por não integrar a lista final. Antes dessa convocatória, a ala enfrentou alguns meses de recuperação após ter fraturado o pé. Um sonho que ficou pelo caminho, no meio de muitas outras conquistas.