À conversa com Rui Fonseca
25 anos depois da fundação da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), Rui Fonseca relembra como surgiu o movimento que ambicionou devolver o desporto universitário (DU) aos estudantes. Para o presidente da Comissão Instaladora, é a atitude dos seus dirigentes que confere à FADU a credibilidade e reconhecimento a nível nacional e internacional.
1. Quais eram os anseios do movimento associativo quando decidiram procurar outra solução para o desporto universitário que não, a até então, gestão feita pela Federação Portuguesa do Desporto Universitário (FPDU)?
Numa frase curta mas reveladora, diria que o grande objetivo era devolver o DU aos estudantes. O modelo de gestão para o DU que existia na altura apenas justificava a existência da FPDU e não garantia qualquer tipo de evolução, quer qualitativa quer quantitativa. Por outro lado, a Lei de Bases para o Desporto obrigava as Federações Desportivas a adaptarem-se a uma nova realidade.
O movimento associativo rapidamente percebeu que tinha que agir em defesa do futuro do DU em Portugal e, de reunião em reunião, começámos a definir um modelo que garantisse a prática do desporto pelos estudantes do Ensino Superior (ES) nas estruturas de ensino onde estavam inseridos. Com esta premissa organizavam-se posteriormente campeonatos locais, regionais e nacionais, podendo estes últimos garantir uma participação em campeonatos internacionais.
2. Que valores defendiam na altura?
Ética, transparência, seriedade, justiça, responsabilidade, coerência... enfim, todos os valores que os jovens idealistas normalmente defendem e pelos quais estão dispostos a lutar até "ao fim". A FADU foi pioneira quando limitou os mandatos dos seus dirigentes, foi a primeira Federação em Portugal a criar estatutos com essa regra. Foi a consequência lógica da forma de estar e pensar dos elementos ligados à criação da FADU.
3. Quem constituía este movimento? Como aconteceu liderá-lo?
O movimento associativo que esteve na origem da FADU era constituído por todas as Associações Académicas (AA) e de Estudantes (AE) ligadas às universidades existentes no país, das quais algumas designaram um representante para integrar a Comissão Instaladora. Assim, Comissão Instaladora era constituída por Rui Fonseca da AACoimbra, Patrícia Liziário da AALisboa, Pedro Dias da AAUBI (Covilhã), Fernando Vieira da AAUM (Braga), José Lucas da AEUAveiro, Paulo Colaço da AEUTAD, e por Francisco Evangelista da FAPorto. Também a AAUAçores, a AEUAlgarve e a AEUÉvora fizeram parte deste movimento.
Realço que desta equipa saíram os três primeiros presidentes da FADU, sendo este um sinal que todos tinham qualidades e competências reconhecidas pelos seus pares para assumir a presidência. Na equipa inicial essas características eram comuns a todos os elementos e qualquer um de nós poderia ter sido o designado. Esta foi uma escolha interna, do grupo de trabalho e para mim foi uma grata surpresa ter sido convidado para assumir o cargo.
Ainda não se tinha abordado essa questão dentro do grupo de trabalho (até porque não era o assunto mais importante para se resolver) e, numa reunião em Lisboa, o José Lucas, em nome da equipa, perguntou-me se eu aceitava o convite. Foi muito simples.
4. Quais os principais desafios no processo de criação da FADU?
Muitos e todos... tudo era um desafio. A FADU começava do zero, não tínhamos dinheiro, não tínhamos sede, mas existia o mais importante: pessoas com atitude que, sabendo que não seria fácil, sabiam que iriam conseguir alcançar os objetivos que a FADU se tinha proposto.
Desde logo ser reconhecida em Portugal pelas outras federações desportivas e por todas as entidades ligadas ao desporto. Depois ser reconhecida internacionalmente. Preparar contratos programa com o governo para assegurar a sustentabilidade financeira. Integrar formalmente os Institutos Politécnicos e fazer com que acreditassem no nosso projeto.
Tenho noção que um dos maiores desafios que enfrentámos era a credibilidade. Na primeira reunião, o início era quase sempre difícil, com notória desconfiança revelada pela outra parte. "Mas quem se julgam estes estudantes para querer organizar o DU em Portugal?". Não o diziam, mas pensavam. Mas encontrámos muitos interlocutores que perceberam que nós éramos parte da solução para os problemas que eles também tinham. E com esses começámos o nosso trabalho. Não posso deixar de realçar o papel fundamental que a Federação Portuguesa de Atletismo, através dos Professores Fernando Mota e Jorge Vieira, teve neste processo.
Os desafios eram muitos mas também tivemos o apoio de algumas personalidades que, desde o início acreditaram na FADU, nomeadamente o Eng. Roberto Carneiro, Prof. Pedro Lynce e Dr. Miguel Macedo, respetivamente Ministro da Educação, Secretário de Estado da Juventude e Diretor Geral do ES. Muitos dos problemas que surgiram pelo caminho foram ultrapassados porque o Prof. Pedro Lynce acreditava no projeto FADU e nos seus jovens dirigentes. Bem haja Prof. Pedro Lynce.
5. Após a sua fundação, como imaginou a FADU dos 25 anos?
Tudo o que eu poderia ter imaginado, ou sonhado, foi largamente ultrapassado pelo nível de organização e reconhecimento nacional e internacional que a FADU, os seus dirigentes e os atletas que a representam conseguiram ao longo destes 25 anos.
6. Como considera que se encontra atualmente o desporto universitário a nível da consciencialização e reconhecimento pela sociedade portuguesa?
Este é um processo que tem sempre margem para evoluir. Se compararmos com o reconhecimento que o DU tinha no início dos anos 90, está incomparavelmente melhor e isso deve-se à grande evolução das estruturas desportivas universitárias e ao trabalho desenvolvido pelo binómio Associação de Estudantes/Reitor.
Mas esta evolução vem na sequência do trabalho desenvolvido pela FADU e seus dirigentes. Não é por acaso que uma das Universidades com melhores resultados globais no DU tem, nos seus quadros técnicos, antigos dirigentes da FADU.
Se compararmos com o que seria o ideal, ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas julgo que o caminho que está a ser feito vai trazer cada vez mais e melhor reconhecimento do DU pela sociedade portuguesa.
7. Que conselhos deixa aos atuais e futuros dirigentes da FADU?
Tudo o que fazemos na vida deve ser feito com a atitude correta. Quando essa atitude incorpora assertividade e resiliência é sempre mais fácil conseguirmos alcançar os objetivos a que nos propusemos, por mais desafios que se nos coloquem e por enormes que nos pareçam. Sejam assertivos, sejam resilientes.